Espírito: IRMÃO X.
LIVRO ANTOLOGIA MEDIÚNICA DO NATAL - Psicografia: Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos
Senhor: quando iniciaste o Divino Apostolado, na
Manjedoura singela, preocupava-se o Império Romano por um mundo só, em
que se garantisse a paz pela centralização administrativa. Augusto, o glorioso
imperador, ostentava a coroa do supremo poder humano, cercado de legisladores e
filósofos que pugnavam pela unidade política da Terra...
No entanto, Senhor, sabias que, além da superfície,
brilhante das palavras, formavam-se legiões consagradas ao aniquilamento e à
morte.
Enquanto se erguiam as vozes do Senado, proclamando
o direito, a concórdia e a dignidade humana, a Espanha pagava dolorosos
tributos de sangue à pacificação; a Germânia experimentava a miséria; a Grécia
conhecia incêndios e devastações da conquista; a Panônia chorava os lares
destruídos. A Arábia tremia sob o terror; a Armênia pranteava os seus filhos; a
África dobrava-se sob atrozes humilhações.
Em Roma, os poetas teciam madrigais à beleza e os
literatos homenageavam a justiça, mas, nas margens do Danúbio e do Reno,
soluçavam crianças e mães desamparadas.
Sabemos, hoje, que a atmosfera de júbilo, reinante
no mundo de então, representava fruto de tua presença santificante, e
reconhecemos que os homens se embriagavam de alegria por fora, continuando,
porém, por dentro, os mesmos enigmas de luz e treva, ignorância e conhecimento,
impulsividade e razão. Sabias, por tua vez, que eles glorificavam o respeito à
dignidade pessoal e matavam-se, uns aos outros, nos circos, sob o aplauso
quente da multidão; reverenciavam os deuses nos templos de pedra e partiam, em
seguida, integrando expedições dedicadas à rapinagem; declaravam-se livres
perante a lei e escravizavam-se, cada vez mais, ao império do egoísmo e da
morte.
Não consideras, Senhor, que o quadro atual continua
quase o mesmo?
Desde a Renascença, ouvimos lições de concórdia
mundial, ensinamentos alusivos à liberdade, cânticos religiosos exaltando a
fraternidade, discursos filosóficos definindo conceitos de solidariedade
humana, argumentos científicos em favor da renovação social para um mundo só,
onde a existência seja digna de ser vivida, mais elevada, mais feliz.
Todavia, enquanto os peritos diplomáticos se
reúnem, solenes, mobilizando rotativas e microfones, o espírito de hegemonia
domina os povos e o ódio calcina os corações.
Entoam-se hosanas à paz nos templos calmos e
prepara-se a guerra nas fábricas febris. A discórdia doméstica e coletiva nunca
foi tão complexa, agora que a Sociologia é mais pródiga em conceituação de
harmonia.
Os homens, não contentes com o poder de matar pelo
canhão e pela metralhadora, pelo gás e pela fome, descobriram a desintegração
atômica, a fim de que não somente os irmãos na espécie sejam exterminados, mas
também os animais e as árvores, os ninhos e os vermes, os elementos
vitalizantes do ar, da água e do solo... E invocam-te a presença, antes da
batalha, abençoa armas em teu nome, declaram-se teus protegidos, acionando maquinarias
de arrasamento.
Relacionamento, porém, esta verdade não desconhece
que o teu amor infinito prossegue vigilante e que, se nenhum serviço do bem
permanece desapercebido adiante de tua misericórdia, nenhuma interferência do
mal se perpetua sem a corrigenda de tua justiça! Acompanhas teu rebanho com a
mesma esperança do primeiro dia, e, quando as ovelhas tresmalhadas se
precipitam no despenhadeiro, ainda é a tua bondade que intervém, carinhosa,
salvando-as da queda fatal. Teu devotamento cresce com as nossas transgressões,
e se permites que a ventania do sofrimento nos fustigue o rosto, que os golpes
da guerra nos abalem as entranhas do ser, é que, Artista Divino, concedes poder
ao martelo da dor, a fim de que, vibrando sobre nós, desfaça a crosta de
endurecimento que nos deforma a vida, entregando-nos a temporário infortúnio
estabelecido por nós mesmos, como se fôramos pedras valiosas, confiadas ao zelo
de um lapidário prudente e benigno!...
É por este motivo, Mestre, que, inclinados, sobre a
recordação de teu Natal, agradecemos a luta benfeitora que nos deste, a
experiência que nos permitiste, as bênçãos que renovas sobre a nossa fronte
todos os dias!
Pastor benevolente e sábio revela-nos o aprisco do
bem! Conheces os caminhos que ignoramos; acendes a tocha da verdade quando as
trevas da mentira se espalham em torno; sabes onde se ocultam as armadilhas
perigosas das margens; identificas de longe a presença da tempestade; tens o
verbo que desperta o estímulo sadio; ensinas onde se localizam os raios do
farol que conduz e as chamas do incêndio que destrói; curas nossas chagas sem
panacéias de fantasia; repreendes amando; esclareces sem ferir; não desprezas
as ovelhas que brantadas, nem abandonadas as que ouviram o convite sedutor dos
lobos escondidos na sombra!...
Sê abençoado, Senhor, nos séculos dos séculos, pela
eternidade de teu amor, pela grandeza de teu trabalho, pela serenidade de tua
sublime esperança.
E permite que nós, prosternados em espírito, ante a
lembrança de tua manjedoura desprotegida, possamos regressar às bases simples e
humildes da vida, continuando nosso trabalho redentor, após repetir com o velho
Simeão, encanecido nas inquietantes experiências do mundo:
- “Agora, Senhor, despede em paz o teu servo,
segundo a tua palavra, pois, já os nossos olhos viram a salvação”.
LIVRO ANTOLOGIA MEDIÚNICA DO NATAL - Psicografia: Francisco Cândido Xavier - Espíritos Diversos
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