12 de mai. de 2012

M Ã E

Um dia, a Mulher solitária e atormentada chegou ao Céu e, rojando-se, em lágrimas, diante do Eterno Pai, suplicou:

- Senhor, estou só! Compadece-te de mim.

Meu companheiro fatigado, cada dia, pede-me repouso e devo velar-lhe o sono! quando triunfa no trabalho, absorve-se na atividade mais intensa e, muitas vezes distraído, afasta-se do lar, aonde volta somente quando exausto, a fim de refazer-se.

Se sofre, vem a mim, abatido, buscando restauração e conforto...

Tu que deste flores ao arvoredo e que abriste as carícias da fonte, no seio escuro e ressequido do solo,

consagras-me, assim, ao insulamento? Reservaste a terra inteira ao serviço do homem que se agita, livre e dominador, sobre montes e vales, e concedes a mim apenas o estreito recinto da casa, entre quatro paredes, para meditar e afligir-me sem consolo?

Se sou a companheira do homem, que se vale de mim para lutar e viver, quem me acompanhará na missão a que me destinas?

O Senhor sorriu, complacente, em seu trono de estrelas fulgurantes e, afagando-lhe a cabeça curvada e trêmula, falou compadecido:

- Dei o mundo ao homem, mas confiarei a vida ao teu coração.

Em seguida colocou-lhe nos braços uma frágil criança.

Desde então, a Mulher fez-se Mãe e passou a viver plenamente feliz.

(Meimei)


MÃEZINHA


Quando o pai celestial precisou
colocar na terra as primeiras
criancinhas, chegou à conclusão
que deveria chamar alguém que
soubesse perdoar infinitamente.
De alguém que não enxergasse
o mal. Que quisesse ajudar sem
exigir pagamento.
Que se dispusesse a guardar
os meninos, com paciência
e ternura, junto do coração.
Que tivesse bastante serenidade
para repetir incessantemente
as pequeninas lições de casa dia.
Que pudesse velar, noites e
noites, sem reclamação.
Que cantarolasse baixinho, para
adormecer os bebês que ainda
não podem conversar.
Que permanecesse em casa ,
por amor, amparando os meninos
que ainda não podem sair à rua.
Que contasse muitas histórias
sobre a vida e sobre o mundo.
Que abraçasse e beijasse as
crianças doentes.
Que lhes ensinasse a dar os
primeiros passos, garantindo o
corpo de pé. Que os conduzisse
à escola, a fim de que
aprendessem a ler.
Dizem que nosso Pai do Céu
permaneceu muito tempo,
examinando...e, em seguida,
chamou a Mulher, deu-lhe o título
de Mãezinha e confiou-lhe as
crianças. Por esse motivo, nossa
mãe é a representante do divino
amor no mundo , ensinando-nos
a ciência do perdão e do carinho,
em todos os instantes de nossa
jornada na terra.
Se pudermos imitá-la, nos exemplos
de bondade e sacrifício que
constantemente nos oferece, por
certo seremos na vida preciosos
auxiliares de Deus.



MEIMEI






Retrato de Mãe




Depois de muito tempo,
Sobre os quadros sombrios do calvário,
Judas, cego no Além, errava. solitário...
Era triste a paisagem
O céu era nevoento..

*

Cansado de remorso e sofrimento,
sentara-se a chorar...
Nisso, nobre mulher de planos superiores,

Nimbada de celestes esplendores,
Que ele não conseguia divisar,
Chega e afaga a cabeça do infeliz.
Em seguida, num tom de carinho profundo,
Quase que, em oração, ela lhe diz:
-Meu filho, por que choras?

*

Acaso, não sabeis? - replica o interpelado,
Claramente agressivo,
Sou um morto e estou vivo.
Matei-me e novamente estou de pé,
Sem consolo, sem lar,sem amor e sem fé...
Não ouviste falar em Judas, o traidor?
Sou eu que aniquilei a vida do senhor...
A principio, julguei
Poder fazê-lo rei,
Mas apenas lhe impus
Sacrifício, martírio,sangue e cruz,
E em flagelo e aflição
Eis que a minha vida agora se reduz...
Afastai-vos de mim,
Deixai-me padecer neste inferno sem fim...
Nada me pergunteis, retirai-vos senhora,
Nada sabeis da mágoa que me agita,
Nunca penetrareis minha dor infinita...
O assunto que lastimo é unicamente meu...

*

No entanto, a dama calma respondeu:
-Meu filho, sei que sofres, sei que lutas,
Sei a dor que te causa o remorso que escutas,
Venho apenas falar-te
Que Deus é sempre amor em toda parte...
E acrescentou serena:
- A Bondade do Céu jamais condena;
Venho por mãe a ti, buscando um filho amado
Sofre com paciência a dor e a prova;
Terás em breve, uma existência nova...
Não te sintas sozinho ou desprezado.

*

Judas interrompeu-a e bradou rude e pasmo:
-Mãe ? Não me venhais aqui com mentira e sarcasmo.
Depois de me enforcar num galho de figueira,
Para acordar na dor,
Sem mais poder fugir à vida verdadeira,
Fui procurar consolo e força de viver
Ao pé da pobre mãe que me forjara o ser !...
Ela me viu chorando e escutou meus lamentos,
Mas teve medo de meus sofrimentos.
Expulsou-me a esconjuros,
Chamou-me monstro, por sinal,
Disse que eu era
Unicamente o espírito do mal;
Intimou-me a terrível retrocesso,
Mandando que apressasse o meu regresso
Para a zona infernal, de onde, por certo, eu vinha...
Ah! detesto lembrar a horrível mãe que eu tinha...
Não me faleis de mães, não me faleis de amor...
Sou apenas um monstro sofredor..

*

-Inda assim- disse a dama docemente-
Por mais que me recuses, não me altero;
Amo-te, filho meu, amo-te e quero
Ver-te de novo, a vida
Maravilhosamente revestida
De paz e luz, de fé e elevação...
Virás comigo `a Terra,
Perderás, pouco a pouco, o ânimo violento,
Terás o coração
Nas águas de bendito esquecimento.
Numa nova existência de esperança.
Levar-te-ei comigo
A remansoso abrigo,
Dar-te-ei outra mãe! Pensa e descansa!...

*

E Judas, nesse instante,
Como quem olvidasse a própria dor gigante
Ou como quem se desagarra
De pesadelo atroz,
Perguntou ;- quem sois vós?
Que me falais assim, sabendo-me traidor?
Sois divina Mulher, irradiando amor
Ou anjo celestial de quem pressinto a luz?!...

*

No entanto, ela a fitá-lo, frente a frente,
Respondeu simplesmente:
- Meu filho, eu sou Maria, sou a mãe de Jesus.


Maria Dolores

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