Um dia, a Mulher solitária e atormentada chegou ao Céu e, rojando-se, em lágrimas, diante do Eterno Pai, suplicou:
- Senhor, estou só! Compadece-te de mim.
Meu companheiro fatigado, cada dia, pede-me repouso e devo velar-lhe o sono! quando triunfa no trabalho, absorve-se na atividade mais intensa e, muitas vezes distraído, afasta-se do lar, aonde volta somente quando exausto, a fim de refazer-se.
Se sofre, vem a mim, abatido, buscando restauração e conforto...
Tu que deste flores ao arvoredo e que abriste as carícias da fonte, no seio escuro e ressequido do solo,
consagras-me, assim, ao insulamento? Reservaste a terra inteira ao serviço do homem que se agita, livre e dominador, sobre montes e vales, e concedes a mim apenas o estreito recinto da casa, entre quatro paredes, para meditar e afligir-me sem consolo?
Se sou a companheira do homem, que se vale de mim para lutar e viver, quem me acompanhará na missão a que me destinas?
O Senhor sorriu, complacente, em seu trono de estrelas fulgurantes e, afagando-lhe a cabeça curvada e trêmula, falou compadecido:
- Dei o mundo ao homem, mas confiarei a vida ao teu coração.
Em seguida colocou-lhe nos braços uma frágil criança.
Desde então, a Mulher fez-se Mãe e passou a viver plenamente feliz.
(Meimei)
Quando o pai celestial precisou
colocar na terra as primeiras
criancinhas, chegou à conclusão
que deveria chamar alguém que
soubesse perdoar infinitamente.
De alguém que não enxergasse
o mal. Que quisesse ajudar sem
exigir pagamento.
Que se dispusesse a guardar
os meninos, com paciência
e ternura, junto do coração.
Que tivesse bastante serenidade
para repetir incessantemente
as pequeninas lições de casa dia.
Que pudesse velar, noites e
noites, sem reclamação.Que cantarolasse baixinho, para
adormecer os bebês que ainda
não podem conversar.
Que permanecesse em casa ,
por amor, amparando os meninos
que ainda não podem sair à rua.
Que contasse muitas histórias
sobre a vida e sobre o mundo.
Que abraçasse e beijasse as
crianças doentes.
Que lhes ensinasse a dar os
primeiros passos, garantindo o
corpo de pé. Que os conduzisse
à escola, a fim de que
aprendessem a ler.
Dizem que nosso Pai do Céu
permaneceu muito tempo,
examinando...e, em seguida,
chamou a Mulher, deu-lhe o título
de Mãezinha e confiou-lhe as
crianças. Por esse motivo, nossa
mãe é a representante do divino
amor no mundo , ensinando-nos
a ciência do perdão e do carinho,
em todos os instantes de nossa
jornada na terra.
Se pudermos imitá-la, nos exemplos
de bondade e sacrifício que
constantemente nos oferece, por
certo seremos na vida preciosos
auxiliares de Deus.
MEIMEI
Partitura - Veja outras partituras.
Retrato de Mãe
Depois de muito tempo,
Sobre os quadros sombrios do calvário,
Judas, cego no Além, errava. solitário...
Era triste a paisagem
O céu era nevoento..
*
Cansado de remorso e sofrimento,
sentara-se a chorar...
Nisso, nobre mulher de planos superiores,
Nimbada de celestes esplendores,
Que ele não conseguia divisar,
Chega e afaga a cabeça do infeliz.
Em seguida, num tom de carinho profundo,
Quase que, em oração, ela lhe diz:
-Meu filho, por que choras?
*
Acaso, não sabeis? - replica o interpelado,
Claramente agressivo,
Sou um morto e estou vivo.
Matei-me e novamente estou de pé,
Sem consolo, sem lar,sem amor e sem fé...
Não ouviste falar em Judas, o traidor?
Sou eu que aniquilei a vida do senhor...
A principio, julguei
Poder fazê-lo rei,
Mas apenas lhe impus
Sacrifício, martírio,sangue e cruz,
E em flagelo e aflição
Eis que a minha vida agora se reduz...
Afastai-vos de mim,
Deixai-me padecer neste inferno sem fim...
Nada me pergunteis, retirai-vos senhora,
Nada sabeis da mágoa que me agita,
Nunca penetrareis minha dor infinita...
O assunto que lastimo é unicamente meu...
*
No entanto, a dama calma respondeu:
-Meu filho, sei que sofres, sei que lutas,
Sei a dor que te causa o remorso que escutas,
Venho apenas falar-te
Que Deus é sempre amor em toda parte...
E acrescentou serena:
- A Bondade do Céu jamais condena;
Venho por mãe a ti, buscando um filho amado
Sofre com paciência a dor e a prova;
Terás em breve, uma existência nova...
Não te sintas sozinho ou desprezado.
*
Judas interrompeu-a e bradou rude e pasmo:
-Mãe ? Não me venhais aqui com mentira e sarcasmo.
Depois de me enforcar num galho de figueira,
Para acordar na dor,
Sem mais poder fugir à vida verdadeira,
Fui procurar consolo e força de viver
Ao pé da pobre mãe que me forjara o ser !...
Ela me viu chorando e escutou meus lamentos,
Mas teve medo de meus sofrimentos.
Expulsou-me a esconjuros,
Chamou-me monstro, por sinal,
Disse que eu era
Unicamente o espírito do mal;
Intimou-me a terrível retrocesso,
Mandando que apressasse o meu regresso
Para a zona infernal, de onde, por certo, eu vinha...
Ah! detesto lembrar a horrível mãe que eu tinha...
Não me faleis de mães, não me faleis de amor...
Sou apenas um monstro sofredor..
*
-Inda assim- disse a dama docemente-
Por mais que me recuses, não me altero;
Amo-te, filho meu, amo-te e quero
Ver-te de novo, a vida
Maravilhosamente revestida
De paz e luz, de fé e elevação...
Virás comigo `a Terra,
Perderás, pouco a pouco, o ânimo violento,
Terás o coração
Nas águas de bendito esquecimento.
Numa nova existência de esperança.
Levar-te-ei comigo
A remansoso abrigo,
Dar-te-ei outra mãe! Pensa e descansa!...
*
E Judas, nesse instante,
Como quem olvidasse a própria dor gigante
Ou como quem se desagarra
De pesadelo atroz,
Perguntou ;- quem sois vós?
Que me falais assim, sabendo-me traidor?
Sois divina Mulher, irradiando amor
Ou anjo celestial de quem pressinto a luz?!...
*
No entanto, ela a fitá-lo, frente a frente,
Respondeu simplesmente:
- Meu filho, eu sou Maria, sou a mãe de Jesus.
Maria Dolores
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