Realmente você tem razão quando afirma que o mundo parece modificado e
que precisamos imenso desassombro para viver dentro dele.
Os últimos cinqüenta anos operaram gigantesca reviravolta nos costumes
da Terra. A casa patriarcal que havíamos herdado do século XIX transformou-se
no apartamento a dependurar-se nos arranha-céus; a locomotiva enfumaçada é
quase uma jóia rara de museu à frente do avião que elimina distancia; a gazeta
provinciana foi substituída pelos jornais da grande imprensa; e os saraus
caseiros desapareceram, ante a invasão do rádio, cuja programação domina o
mundo.
O automóvel, o transatlântico, o cinema e a televisão constituem outros
tantos fatores de informe rápido, alterando a mente do povo em todos os climas.
E a garantia dos cidadãos? Em quase todos os países há leis de segurança
para empregados e patrões, homens, mulheres, jovens e crianças.
Há direito de greve, licença, litígio e descanso remunerado.
Existem capitães da indústria e comércio, acumulando riquezas mágicas de
um dia para outro, desde que não soneguem o imposto relativo aos monopólios que
dirigem contra a harmonia econômica.
Temos operários desfrutando inexplicável impunidade, na destruição das
casas em que trabalham, com a indisciplina protegida em fundamentos legais.
Há jovens amparados na difusão da leviandade e da mentira, sem qualquer
constrangimento por parte das forças que administram a vida pública.
Não estamos fazendo pessimismo.
Sabemos que o mundo permanece sob o governo místico das rédeas divinas e
não ignoramos que qualquer perturbação é fenômeno passageiro, em função
desajusta da própria região onde surge o desequilíbrio.
Com as nossas observações, tão somente nos propomos reconhecer que a
criatura humana de nossa época está mais livre e, por isso, mais destacada em
si mesma.
Nos grandes períodos de transição, qual o que estamos atravessando,
somos como que chamados pela Sabedoria Divina a provar nossa, madureza
interior, nossa capacidade de auto direção.
Dai resulta a desordem aparente, em que somos compelidos à revelação da
própria individualidade.
Na organização coletiva, no grupo social, na equipe de trabalho ou no
reduto domestico, vê-se o homem de hoje obrigado a mostrar-se tal qual é,
classificando-se, de imediato, pela própria conduta.
As dissensões, os conflitos, as lutas e os embates de todas as
procedências oferecem s impressão de caos, provocando a gritaria dos profetas
da decadência, e, por isso mesmo, as almas que não se armaram de fé e que não
se sustentaram fiéis às raízes simples da vida sofrem pavorosos desastres
psíquicos, que as situam nos escuros domínios da alienação mental.
Cresce a loucura em todas as direções.
O hospício é a última fronteira dos enfermos do espírito, de vez que se
agitam eles em todos os setores de nosso tempo, à maneira de consciências que,
impelidas ao auto-exame, tentam fugir de si mesmas, humilhadas e estarrecidas.
Em razão disso, creia que o melhor caminho para não cair nas mãos dos
psiquiatras é o ajustamento real de nossa personalidade aos princípios cristãos
que abraçamos, porque o problema é da alma e não da carne.
Não precisaremos discutir.
A hora atual da Terra é inegavelmente dolorosa, mas a tempestade de hoje
passará, como as de ontem.
Refugiemo-nos em Cristo.
O Senhor é a nossa fortaleza.
Se tivermos bastante coragem de viver o Cristianismo em sua feição pura,
na condição de solitários carregadores de nossa cruz, poderemos encarar
valorosamente a crise e dizer-lhe num sorriso confiante: - vamos ver quem pode
mais.
Por: Humberto de Campos (Irmão X)
Do livro: Cartas e Crônicas, Médium: Francisco Cândido Xavier
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