No dia 9 de Junho recebi da Oficina Cultura, via e-mail, o convite abaixo e logo a seguir passo a relatar o que ocorreu, para meu contentamento.
ORQUESTRA FILARMÔNICDE SÃO CARLOS
Apresenta “CONCERTO DIADÁTICO”
DIA 9/6 - Quinta-feira às 20h
Regência - FLAVIA BOMBONATO
Local - OFICINA CULTURAL SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
A orquestra entrou no palco por volta das 20h15. A regente Sra. Flávia Bombonato, uma moça bem alegre, iniciou o seu trabalho nos informando que naquela noite teríamos a apresentação de peças do compositor Vivaldi, tendo feito uma apresentação dele e contado parte da sua história, com a colaboração da platéia.
Atendendo pedido de um espectador, explicou a diferença entre Orquestra Filarmônica e Orquestra Sinfônica e a seguir demonstrou as diferenças de tamanho e sonoridade entre os instrumentos: Violinos, Violas, Violoncelos e o Contrabaixo, que antigamente era chamado de Rabecão.
Um dos presentes solicitou que a regente desse uma explicação sobre o ato de reger uma orquestra, pois ele tinha a impressão de que os músicos olhavam permanentemente para as partituras sem dar a menor atenção para o movimento do regente. A Sra. Flávia explicou que os músicos se utilizam do recurso da visão periférica e que conseguem acompanhar a regência da peça, bem como ler suas partituras.
Informou-nos também, que uma peça era composta de vários movimentos e que Vivaldi, geralmente, compunha suas peças em três movimentos: o primeiro ligeiro, o segundo lento e finalmente o terceiro novamente ligeiro. A seguir com a execução da Orquestra demonstrou as diferenças entre estes movimentos.
A seguir se preparou para iniciar a execução da peça e dando uma parada se voltou para a platéia convidando se alguém não gostaria de ter essa experiência. Ocorreu um silêncio naquele momento e...eu juro! não consegui segurar minha mão e ela se levantou....É verdade... A Sra. Flávia me convidou para subir ao palco. Estava uma noite bem fria e eu estava bem agasalhado. Imediatamente retirei o agasalho mais pesado e me dirigi para o “cadafalso” ( foi esse o pensamento). Ao me aproximar da Sra. Flávia ela me disse : “A batuta é sua” me entregando seu instrumento.
Naquele momento senti a responsabilidade que havia assumido. Tomei com minha mão direita aquela “varinha”, senti seu verdadeiro peso e seu real tamanho. Observei que uma das suas pontas era mais grossa e mais pesada. Do outro lado ela era bem longa e bem mais fina e leve. Não tive dúvida; inverti a posição da batuta em minha mão, dei três batidas no suporte de madeira que sustentava as partituras e me preparei para dar início ao que me propus.
O meu ato das três batidas provocou um sorrido da platéia. A Sra. Flávia interrompeu o início da execução pedindo desculpas e explicando que aquele meu ato era válido e que tinha a finalidade de solicitar a atenção do músicos. Explicou também que aquele formato da batuta era bem recente e que antigamente eram utilizados vários objetos e até mesmo um rolo fino de jornal.
Durante aquele momento em que a Sra. Flávia dava aquelas explicações, me passou pela cabeça o que eu iria fazer, pois não tinha a menor idéia de que música seria tocada, qual seria seu andamento e qual o compasso da mesma. Quando ela me devolveu a batuta, ao recebê-la eu disse bem baixinho: “Vou pagar o meu mico”.... e ela me respondeu: “Não se preocupe”.
E agora maestro??? De batuta na mão e o que fazer? Naquele momento me veio na mente: “eu me propus a isso então vamos lá”. Dei as três batidas, levantei os dois braços, suspirei e os baixei. Meus amigos, o choque foi imenso. Não fazia idéia do som que seria produzido.... Foi fantástico! Os primeiros movimentos de braços falsearam em busca do ritmo, mas não foram mais de três.... Dominado o ritmo, um grande passo havia sido dado e agora era observar a variação em si da peça. É muito difícil eu descrever como foi possível captar a variação de uma música que eu nunca havia escutado. Durante alguns segundos eu me senti flutuando no meio daqueles sons onde eu só dominava o ritmo. De repente os pés assentaram-se no chão e observei que o desenho da música estava se delineando.
Aos poucos meus braços foram se soltando e cada um deles passou a ter o seu próprio movimento, se orientando para cada tipo de instrumento, inclusive sentindo a intensidade do som de cada grupo. O mais lindo ainda estava para acontecer. Passei a olhar no rosto dos músicos e a sentir neles uma grande alegria brotar em seus olhos e acredito que a recíproca também existiu e essa perfeita interação de sentimentos explodiu naqueles instantes me dando uma sensação de que eram eles que me conduziam transmitindo com seus olhares os próximos acordes que iriam ser tocados.
Foi uma troca de energia perfeita entre eu e aqueles fabulosos seres humanos e acredito que tamanha tenha sido essa interação que até a platéia tenha participado do que pairou no ambiente. Ao final foi uma grande confraternização dos que ali estavam e, ao devolver a batuta para quem de direito, tive oportunidade de dizer a Sra. Flávia:
“Você acabou de realizar um grande Sonho!”
Ao término da programação procurei a Sra. Flávia para saber qual peça tinha sido executada pela Orquestra e ela, gentilmente, me informou ser o 3° Movimento da Alta Rústica de Vivaldi.
Esse é o meu depoimento. Obrigado Sra. Flávia, obrigado Oficina Cultural.
Antonio de Sant`Anna Galvão Leite.
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